terça-feira, julho 29

Eternamente - MST


E escrevi o teu nome numa página da agenda do mês de Fevereiro. E ao escrevê-lo sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida como caranguejos na maré vazia.......E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre , como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.
Sabes, quem nao acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos, acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogamos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente, apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Nao perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.

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